Que castelo é aquele escondido no bosque? Dizem que antigamente estava cheio de alegria, de música e de vida. Nele vivia um príncipe de aspecto e riqueza invejáveis. Tinha tudo o que desejava, mas era um jovem mimado, egoísta e sem coração. Certo dia, uma velha mendiga bateu à sua porta e disse-lhe:
- Toma esta rosa! Em troca gostava que me desses hospedagem por esta noite.
- Nem pensar nisso, és feia demais! – troçou o príncipe.
Mas a mendiga era uma fada e retorquiu:
- Serás castigado pela tua maldade. Maldito seja o teu castelo e os seus habitantes! E tu converter-te-ás num monstro assustador. Só o amor de uma formosa jovem te devolverá a beleza. Tenta conquistar o amor de alguém…
Não longe do castelo, numa aldeia encantadora, vivia uma jovem tão formosa que todos lhe chamavam Bela. Gostava de ler e viam-na sempre de olhos postos num livro. Esse gosto merecia-lhe o riso e a troça de toda a gente.
Certa manhã, Bela caminhava pela aldeia absorta no seu livro e não viu o sedutor e presumido Gaston, por quem suspiravam todas as outras raparigas.
- É com esta rapariga que eu vou casar. É digna de mim.
À tardinha, depois de ter feito subir a máquina para a carroça, Maurice, o pai de Bela, montado sobre Philippe, o seu bom cavalo, preparava-se para sair de casa.
- Tenho a certeza que vais ganhar o primeiro prémio na feira de inventores, papá – disse-lhe Bela.
É pena que anoiteça tão cedo no Inverno! O bom Maurice, querendo tomar um atalho, perdeu-se. Não consegue encontrar o caminho. Diante dele surgem sombras sinistras… Lobos!
Mal tem tempo de se pôr a salvo atrás das grades que cercam uma mansão de aspecto lúgubre.
De repente, uma enorme e monstruosa criatura lança-se sobre Maurice.
- Um estranho! – bradou uma voz feroz, ao mesmo tempo que umas patas com garras se apoderavam do ancião, petrificado de terror, e o atiravam para uma das masmorras do torreão.
Bela encontrou Philippe, o cavalo de seu pai.
- Estás sozinho? Onde está o papá?
Philippe não falava, mas com um movimento de cabeça convidou-a a montá-lo. No mesmo instante, Bela subiu para a sela e lançou Philippe a galope em direcção ao castelo.
Bela entrou no castelo silencioso, mantendo os olhos e os ouvidos alerta. De repente, uma massa informe e ameaçadora ergueu-se na sombra.
- Eu sou o dono deste lugar – grunhiu uma voz.
- Por piedade! - implorou a jovem. Liberte o meu pai! Ele está doente!
- Ele não deveria ter atravessado o umbral deste castelo – replicou a voz.
- Então, prenda-me em seu lugar – pediu Bela num tom decidido.
- Amo – interveio Lumiere – já pensaste que talvez seja esta jovem que vai romper o feitiço? Apaixonas-te por ela… Ela apaixona-se por ti, e… pff! Quebra-se o malefício. E à meia-noite recuperamos a forma humana!
No castelo não são precisos criados para servir à mesa: pratos, copos, talheres e guardanapos colocam-se sozinhos!
Os pratos, inclusivamente, não se esquecem de fazer uma reverência a Bela. E em seguida improvisam um verdadeiro baile em honra dela!
Terminada a festa, Bela, curiosa, quer explorar o resto do castelo.
- Não entras por essa porta. É proibido! – exclamam os seus amigos.
Mas ela não os escuta.
- Oh! Que bela rosa! – exclama a jovem.
- Pára!
Era o Monstro que gritava assim.
Lança gritos assustadores enquanto caminha em direcção à jovem:
- Como te atreves! Sai daqui!
Aterrorizada, Bela decidiu não cumprir a sua promessa e fugiu do castelo com Philippe.
De repente um terrível alarido ressoou no meio da noite. Os lobos ficaram imóveis. Quem grita assim? Não é uma raposa. Um veado também não é; nem sequer um javali… Petrificados, vêm saltar diante deles uma fera monstruosa, um ser desconhecido e furioso, o Monstro!
No dia seguinte, jantam e, inclusivamente, bailam juntos. Ia nascendo um sentimento de ternura entre Bela, a convidada, e o tão temido dono da mansão. Mais tarde, o Monstro abre as portas da sua biblioteca para Bela, balbuciando:
- Estes livros são teus.
O Monstro levou Bela ao seu covil e deu-lhe o espelho mágico em que fez aparecer a imagem do pobre Maurice, agonizante no bosque, desesperado por não conseguir encontrar a filha. Bela foi buscá-lo, ajudou-o a montar no seu cavalo e partiram os três a galope para a aldeia.
Ali a jovem mostrou aos vizinhos o rosto do Monstro reflectido no espelho, dizendo:
- Este é mesmo o Monstro, o meu pai não tinha sonhado! O seu único erro foi ter tido medo. Porque o Monstro não é mau, antes pelo contrário.
Furioso, Gaston arrancou o espelho das mãos de Bela e desafiou a multidão excitada.
- Ele deve acabar entre os troféus de caça que adornam as paredes do castelo! Temos que matar o Monstro!
Bela assistiu aterrorizada à luta sem quartel entre Gaston e o Monstro, que não queria defender-se. Mas, ao escutar a voz de Bela no meio do alvoroço geral, o Monstro reanimou-se. Usando todas as forças que lhe restavam, ergueu-se nas patas traseiras e arrancou o garrote das mãos de Gaston.
- Que felicidade! – exclamou o Monstro – Não me abandonaste!
O traidor Gaston aproveitou o momento para voltar à carga… E cravou o punhal nas costas do Monstro!
A cornija era estreita e a luta perigosa. Gaston, obrigado a retroceder, tropeçou e caiu no vazio.
Enquanto Bela, louca de dor, se inclina sobre o Monstro ferido para lhe dar um beijo, a última pétala da rosa encantada desprende-se e cai. Bela não consegue acreditar naquilo que os seus olhos vêm: um jovem bonito em vez do Monstro!
- Não, não estás a sonhar – diz-lhe aquele príncipe encantador. Uma fada lançou-me um feitiço e tu libertaste-me dele. Eu amo-te. Tenho apenas um desejo: casar contigo!
O príncipe não é o único que recupera o seu aspecto primitivo. Também a Madame Samovare retoma a forma humana, como governanta. Lumiere, o candelabro, transforma-se em criado de quarto, Horloge, em mordomo e Zip, a chávena, num rapazinho espevitado.
Um sol resplandecente dissipa a névoa que envolvera o castelo durante tanto tempo. Os seus raios saúdam a formosíssima Bela, o príncipe encantador e o amor de ambos que foi capaz de vencer a maldição.
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